CONDOMINIUM

AN MIRANDÉS

Un porjeto de Rogério Nuno Cuosta


An colaboraçon cun: Rota do Sentir, Plano Nacional das Artes, AEPGA, Município de Miranda do Douro, Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro



Al prefixo cun- _ junto la, junto de, an cunjunçon, cunjuntamente _, junta-se la palabra domínio _ propiadade, cuntrolo, possesson. Antoce: un domínio cunjunto, ua co-propiadade, un cuntrolo partilhado, ua possesson zapropiada. Ne l dreito anternacional, refire-se àqueles territórios políticos subre ls quales múltiplos poderes soberanos cuncordan formalmente an partilhar l domínio (ó soberanie) de forma eigualitária, assi eisercendo ls sous dreitos an cunjunto, sin debedir l território an zonas "nacionales". Ua lhéngua, subretodo quando minoritária i an risco de stinçon, puode tamien ser un cundomínio: fuorça de resisténcia i spácio de lhibardade.


An Mirandés


CUNDOMÍNIO ye ua série de performances pós-(in)-deciplinares, de dimenson nómada i multelingue, que pretende anquirir, debater i cunfrontar, atrabeç de práticas pedagógicas i colaboratibas, porblemáticas geo-sócio-culturales i stóricas persentes an territórios frunteiriços adonde persisten práticas, lhénguas i falas minoritárias i/ó an bias de stinçon. L porjeto pretende abordar i antensificar las relaçones cuncetuales i anterrelacionales antre la custruçon dua performance-in-situ i las dibersas agéncias que co-habitan i/ó bejitan lhugares adonde acuntecen ancuontros, séian eilhes spácios de porgramaçon artística, de lhazer, scuolas, centros sociales, associaçones jubenis, bibliotecas, ó outras cunfiguraçones de spácios públicos (jardines, praças, rues, florestas, baldios) ó pribados. Anspirado na peça “Bou La Tua Casa”, ua trilogie teatral para spácios domésticos streada an 2003 por Rogério Nuno Cuosta, l porjeto apersenta-se anquanto fórun pa la çcusson, coletibamente participada, an torno dua noçon spandida de “casa”, spurmentando práticas radicales de spitalidade i co-habitaçon, speculando-se nuobas poéticas para sonharmos, pertencermos i eisistirmos. Eimaginar i spurmentar un spácio quemun (ó quemummente habitado), adonde formas outras de cumbebialidade puodan ser testadas i protegidas, nun diálogo antensificado cul lhocal, l doméstico i l coperatibo. Pa la "Rota de l Sentir", l porjeto debruçar-se-á subre la lhéngua mirandesa, an particular la sue persença ne l cuntesto scolar (adolescentes), nun formato semi-ficional de rádio pirata adonde se cunspira i difunde un manifesto pós-lhenguístico sustentado an ouparaçones de traduçon i retroberson, lhegendaige i anterpretaçon, eimaginaçon i ambocaçon. L trabalho ambiciona la rebelaçon de las falas/falhas qu'eimerge de l spácio tensional que separa dues (ó mais) lhénguas, analisando l'ancumprenson anquanto promessa de multiplicidade. La lhéngua cumo eisílio i cumo cundomínio.

















An Pertués


CONDOMÍNIO é uma série de performances pós-(in)-disciplinares, de dimensão nómada e multilingue, que pretende inquirir, debater e confrontar, através de práticas pedagógicas e colaborativas, problemáticas geo-sócio-culturais e históricas presentes em territórios fronteiriços onde persistem práticas, línguas e falas minoritárias e/ou em vias de extinção. O projecto pretende abordar e intensificar as relações conceptuais e interrelacionais entre a construção de uma performance-in-situ e as diversas agências que co-habitam e/ou visitam lugares onde acontecem encontros, sejam eles espaços de programação artística, de lazer, escolas, centros sociais, associações juvenis, bibliotecas, ou outras configurações de espaços públicos (jardins, praças, ruas, florestas, baldios) ou privados. Inspirado na peça “Vou A Tua Casa”, uma trilogia teatral para espaços domésticos estreada em 2003 por Rogério Nuno Costa, o projecto apresenta-se enquanto fórum para a discussão, colectivamente participada, em torno de uma noção expandida de “casa”, experimentando práticas radicais de hospitalidade e co-habitação, especulando-se novas poéticas para sonharmos, pertencermos e existirmos. Imaginar e experimentar um espaço comum (ou comummente habitado), onde formas outras de convivialidade possam ser testadas e protegidas, num diálogo intensificado com o local, o doméstico e o cooperativo. Para a "Rota do Sentir", o projecto debruçar-se-á sobre a língua mirandesa, em particular a sua presença no contexto escolar (adolescentes), num formato semi-ficcional de rádio pirata onde se conspira e difunde um manifesto pós-linguístico sustentado em operações de tradução e retroversão, legendagem e interpretação, imaginação e invocação. O trabalho ambiciona a revelação das falas/falhas que emergem do espaço tensional que separa duas (ou mais) línguas, analisando a incompreensão enquanto promessa de multiplicidade. A língua como exílio e como condomínio.

L Podcast

Eipisódio-Piloto

Dues Lhénguas, dues bezes, l sonido de la sanfona por António André, Félç Galhego declamando dous de ls sous poemas, l sonido de la gaita, l'aluno a tentar dezir, l mesmo aluno nua aula de berdade cul porsor Duarte a tentar dezir melhor, ua rumba, la purmeira antrada ne l diairo de Miranda, un ASMR de burros, canhonas, páixaros, grilos i l'auga dun rieiro, l radadeiro diairo de Heilsínquia, ua passaige de “Belheç” de Fracisco Niebro lhida la contra-boç por Alcides Meirinhos an Mirandés i Rogério Nuno Cuosta an Pertués, la stória de Manuol Ruano an modo trelingue, la cunjugaçon polifónica i poli-baliente de ls berbos ser, tener, poder i dezir, l Gabriel a tocar la gaita, i la lhéngua-mai de l Paulo Meirinhos.


Organizaçon, testos i cataçones _ Rogério Nuno Cuosta/Costa • Pós-porduçon áudio _ Basco/Vasco Zentzua • Perdutora lhocal, mestra de cerimónias i assistente de biaige _ Joana Braga • Porduçon eisecutiba: Cláudie/Cláudia Teixeira.


A scuitar eiqui (faga-se oubir cul ajuda d'auriculares!):

Diário de Biaige

Diário de Miranda do Douro

3 de Maio de 2025


Não há separação entre o céu e a terra. Como não há fronteira, nem sequer entre o lado de cá y el lado d’alhá. Um planalto que é como o quadro sonhado por Duchamp: não tem nem face, nem reverso, nem alto, nem baixo. Um condomínio, portanto: ao mesmo tempo companhia, concomitância, simultaneidade.


Com.


O céu e a terra mostram-se particularmente tangenciais nos terrenos baldios, onde o azul e o verde se fundem numa cor sem nome, que só quem fala a língua terceira poderá verdadeiramente descrever, mesmo que sem o auxílio de palavras. Os baldios não são de ninguém, e portanto são de toda a gente (pessoas e animais). Condomínios, portanto. Zonas autónomas que, aqui, neste planalto, não são temporárias; há uma lingua franca que é francamente uma língua permanente, a única falada simultaneamente por pessoas e entendida pelos animais. Um condomínio, portanto.





(Nota de bem: quando digo animais, digo mesmo animais, mas na verdade penso nos burros. Os burros de Miranda. Perdoem-se os outros. Os outros burros e os outros animais.)

Diário de Helsínquia

21 de Junho de 2025.

São neste momento 23 horas e 59 minutos e ainda não anoiteceu. Neste lugar, o tempo também é condomínio. Não, não é a geografia, é mesmo o tempo. Às vezes até parece que é o lusco-fusco quem mais rápido se aproxima da linha do horizonte, para quase imediatamente nos apercebermos que não, é mesmo só a promessa, efetivada no aqui e no agora, de outro dia a começar, vagaroso e intenso. Como se o dia fosse sempre o mesmo, não infinito, mas circular: começa onde acaba onde começa onde acaba onde começa onde acaba. Tal como o céu que é terra que é céu que é terra que é céu que é terra do planalto mirandês. Um condomínio, portanto.















Pausa.

Diário de Helsínquia

22 de junho de 2025

São neste momento 00 horas e 12 minutos e ainda não amanheceu. Se continuarmos a seguir para Nordeste, será lusco-fusco para sempre. É mais ou menos assim que imagino a adolescência, aquele não-tempo onde se chega muito depressa, para ainda mais depressa querermos dele sair. Mas saímos mesmo? Pausa… Aceitamos mesmo esse lusco-fusco que nunca amanhece nem anoitece? Pausa… Não, não é geografia, quando muito será geofasia = o horizonte sempre igual, a fala que nos sai da boca sem esforço, e no entanto, calejada de erros de concordância, o tempo a fugir-nos debaixo dos pés e, no entanto, nós sempre no mesmo lugar, no mesmo horizonte, no mesmo intervalo de tempo entre duas palavras mal-ditas. Eu achava que nenhuma arte e nenhum engenho, conhecidos ou por inventar, pudessem resolver este conflito, chamemos-lhe assim à falta de melhor relógio… Pausa. Cheguei à terra-céu de Miranda e vi dois burros a abraçarem-se, pescoços enrolados num vaivém quase imperceptível, uma lenta e tensa performance que quase parecia o início de um conflito insolúvel do qual apenas um dos burros sobreviveria. Pausa. Só que não. Pausa. Os dois burros abraçam-se assim para que se reconheçam como amigos. Depois desse encontro-performance, serão amigos para sempre. E só assim poderão sobreviver. Sobrevivem os dois. Pausa. Pausa? Pausa… Mais pausas houvesse… E seria lusco-fusco para sempre!

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Parar.


Pedem-me para refletir sobre como pode a arte resolver o conflito. Pode? Não sei é se deve, mas isso fica para o primeiro episódio do podcast… A poder, então só se for para reclamar esse espaço entre o céu e a terra onde a língua franca, entendida por pessoas e animais e pessoas e animais e pessoas e animais, seja essa língua híbrida do para sempre. Como diria o meme: Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos burros. Desculpem: “Quanto mais me dou cun pessonas, mais gusto de ls burros!”


Pausa.


Falta alguma coisa? Falta sempre. Mas neste momento o que falta mais é para sempre. Tal como os burros que eu vi, se não estamos/ficamos/permanecemos juntos, deprimimos.











Pausa. Pausa. Pausa. Pausa. Pausa…

Mais an brebe...


CUNDOMÍNIO

AN MIRANDÉS



Um projecto de Rogério Nuno Costa em colaboração com Vasco Zentzua (arte sonora), Susana Mendes Silva (espaço/artes visuais), Jani Nummela (design e ilustração) e Cláudia Teixeira (direção de produção).


Uma produção Sufoco em coprodução com o programa "Rota do Sentir" (Rota Clandestina), projecto apoiado pela Direção-Geral das Artes, com o apoio do Plano Nacional das Artes, AEPGA, Município de Miranda do Douro e Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro.


Produtora/facilitadora local: Joana Braga (AEPGA).

Fotografia promocional: Cláudia Costa (AEPGA).


Parceiros locais: Associaçón de Lhéngua i Cultura Mirandesa, Gabinete de Apoio à Presidência (Município de Miranda do Douro), Centro de Formação de Malhadas, Centro de Actividades Lúdico-Pedagógicas do Burro de Miranda, Parque Ibérico de Aventura e Natureza de Vimioso, Palombar, Centro de Valorização do Burro de Miranda, Biblioteca Municipal de Miranda do Douro, Lérias Associação Cultural, Casa de la Música Mirandesa, Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro.


Agradecimentos: Renzo Barsotti, Susana Silvério, Suzana Ruano, Duarte Martins, Paulo Meirinhos, Amadeu Soares, Manuel Galhano, Alcides Meirinhos, Miguel Nóvoa, Ana Luísa Pombo, Angelina Torres, Joana Lopes, Fernando Pereira, Justina Xastre, Alcino Barros, Natália Leitão, Marina Alves, Maria Augusta Alves, Dona Iria & Senhor Mário, Dona Olinda, Dona Angelina, tocadores Gabriel/Yuri/Óscar, António André, Linda Silvana, Luca Calufetti, João Luís, Pia & Pertti Nummela.


A série de encontros-equanto-performance "Condominium" conta com a coprodução em residência d'O Espaço do Tempo (Montemor-o-Velho) e o apoio do Festival END, Teatro Oficina, Festival Paragem, centro em movimento e Ballet Contemporâneo do Norte.