[ʁu.ˈʒɛ.ɾi.u ˈnu.nu ˈkɔʃ.tɐ]

Vou

Em sua casa

Vou A Tua CasaTRILOGY

Vou A Tua Casa [tradução literal: Vou Para Sua Casa; título oficial em inglês: Going To Your Place] é uma trilogia performática escrita e interpretada por Rogério Nuno Costa, que decorreu de 2003 a 2006 em diversas cidades e vilas portuguesas (Lisboa, Porto, Évora, Covilhã, Braga, Amares, Caldas da Rainha, Torres Vedras, Guimarães), e também em Londres (Reino Unido), Hamburgo (Alemanha), Kortrijk (Bélgica), Arnhem (Holanda), Berlim (Alemanha), Espoo e Helsínquia (Finlândia). A primeira parte da trilogia [também conhecida como Lado A/A-Side], aconteceu nas casas dos espectadores (até 5 espectadores por casa). A segunda parte, intitulada “No Caminho”, foi um encontro cara-a-cara entre Rogério Nuno Costa e um espectador, que teve de escolher previamente o local público para a actuação. . A terceira e última actuação, intitulada “Lado C”, aconteceu no apartamento de Rogério Nuno Costa para um grupo de 6 espectadores, 1 observador especializado, 1 artista convidado e 1 auxiliar de cozinha; C Side consistiu num evento híbrido, oferecendo uma experiência teatral imersiva, um jantar e uma palestra-performance, onde o público foi convidado a aderir a um efémero gastro-clube fundado para ajudar o artista a resolver as suas lutas pessoais/profissionais. Um enredo subtil liga os três momentos performativos num itinerário urbano, expresso na descrição poética da trilogia: “Vou A Tua Casa é um percurso geoemocional tripartido na cidade; a primeira parte é a sua casa, a última parte é a minha, a parte intermediária reside naquele impossível espaço intermediário, onde nós dois podemos finalmente nos tocar.


Terminadas as peças performáticas, o projeto “Vou A Tua Casa” prosseguiu para a fase documental. PROJETO DE DOCUMENTAÇÃO [2006/07; data de publicação online: 2011] é uma plataforma editorial interdisciplinar, que compila um conjunto de materiais documentais produzidos e recolhidos durante as apresentações públicas da trilogia num livro e num vídeo-documentário. Mais do que uma especulação em torno dos resíduos deixados por um conjunto de performances particularmente frágil, o projeto foi construído a partir da própria prática documental, operando criticamente em conceitos como efemeridade, memória, intimidade, espaços públicos/privados, especificidade do local e autobiografia. Em 2023, o 20º aniversário de "Vou A Tua Casa" será comemorado com a publicação de um livro/catálogo bilingue intitulado “Going To Your Place - Documentation Project” pela editora lisboeta Sistema Solar, juntamente com reconstituições e adaptações das 3 performances de Rogério Nuno Costa e artistas convidados.

VOU A TUA CASA [LADO A]

Indo para o seu lugar [A-SIDE]

O título é literal. Eu gosto deles assim. Não acredito em títulos poéticos, simbólicos, filosoficamente enigmáticos, sofisticados, ocultos, criptografados. VOU A TUA CASA não engana; mas pode potencialmente assustar, embora o seu objectivo principal seja tão simples como este: um artista (urgente) indo à casa de alguém. Nada mais do que uma aventura artística e teatral que foge constantemente do espaço e do tempo. Questionar os limites da teatralidade e da performatividade sempre aparece, mas isso não me interessa. Minha atenção se concentra nas pessoas, em suas casas e no fato de ir visitá-las; sendo isto mais ou menos “teatro”, mais ou menos “performance/arte ao vivo”, mais ou menos “espetacular”, importa muito pouco. As coisas que impulsionam a urgência de ir, fazer, ver, tocar, amar e depois partir estão repletas de truques maliciosos e mentiras encapuzadas. Eu gosto de fingir... fingir que estou emocionado, por exemplo. Não acredito na “verdade”. É falso que haja pessoas, casas e eu visitando-as. A cidade mente, é “invisitável”. Eu o ultrapasso fugazmente e consigo conforto e abrigo lá dentro. Exatamente lá. Onde você está.

Presentations: Lisbon (2003/04), Torres Vedras (A8 Festival, 2004), London (Postscript Festival, 2004), Covilhã (Quarta Parede, 2006), Kortrijk (Fresh Festival, 2006/seminar), Braga (Censura Prévia, 2006), Caldas da Rainha (Sonda Festival, 2006), Porto (A Sala, 2007), Hamburg (Dance Kiosk Festival, 2007), Helsinki (feat. Stop Deportations, Rautatientori, 2017).

NO CAMINHO [LADO B]

A CAMINHO [LADO B]

Entre a sua casa - onde estive - e a minha - onde gostaria que você estivesse -, há um ponto intermediário. Um ponto em andamento. A caminho. Se você me pegasse lá, eu poderia lhe contar o segredo, desmascarar tudo, me desmascarar. Nesse lugar impossível onde é possível respirar ao mesmo tempo, quero fazer parte do seu mundo. Permanentemente e impotente. Nada mais importa além do que tenho para lhe contar, naquele exato momento, e também todas as coisas que você quer que eu corte. Vou jogar fora tanto da minha vida real quanto a sua vontade de VER uma performance possa eventualmente ditar. E então será para sempre. Até que eu tenha o suficiente. Até que você tenha o suficiente. E o nosso “momento especial” pode, portanto, sucumbir às leis naturais do universo.

Apresentações: Torres Vedras (Festival A8, 2004), Lisboa (2005), Bucareste (E-motional | Re-thinking Dance, ODD Gallery & Modulab/seminário, 2015), Espoo [lobby do Aalto University Learning Centre, "Hi-stories" exposição com curadoria de Ksenia Kaverina, 2017).

LADO C

LADO C

À mesa de jantar: 15 espectadores [fingindo ser estudantes ou membros de algum tipo de corporação anônima], um artista [fingindo ser professor de culinária ou guru de uma nova seita conceitual-nominalista], um observador misterioso [fingindo não saber alguma coisa sobre o evento, mas tendo ensaiado muito bem seu papel…], e outro artista, convidado pelo primeiro a boicotar 5 minutos do show. Retoricamente falando, o C-SIDE é um evento “em construção”; a performance em si é discutida e os papéis que os participantes devem desempenhar são indefiníveis, intercambiáveis e constantemente questionados. O objetivo é refletir sobre as razões de estarmos “lá” e não em algum outro lugar. Ou seja: marketing interno, compra e venda de eletrodomésticos, nouvelle cuisine portuguesa, cura para enxaquecas, pesquisas no Google, conspirações ultra-secretas, candidaturas a financiamento de arte, tutoriais de moda dos anos 90, festas do pijama emo-adolescentes, pós-verdade ou pós-desafio, segunda mão constrangimentos e rotinas de líderes de torcida, tudo misturado em um evento nutricional, ergonômico, esotérico, medicinal e hipsta-cool-tural. C-SIDE é uma performance inusitada, ao mesmo tempo acolhedora e ambígua, concordando sem esforço primeiro com a “realidade”, para depois mudá-la. Thomas Hirschhorn, que faz uma participação especial na performance, diria: isso não é “político”, mas é “politicamente” realizado. Um encontro extraordinário de pessoas que se reúnem para resolver os problemas de um artista, em troca de comida gourmet e créditos de curriculum vitae.

C-SIDE was funded by Direcção-Geral das Artes/Ministry of Culture (Portugal), with the support of Transforma AC, DIF/Publicards, Festival Alkantara, Companhia de Dança Contemporânea de Évora, EIRA, Cão Solteiro, Escola Superior de Comunicação Social, LUPA Festival, Encontrarte Festival and Ballet Contemporâneo do Norte [Associated Artist].
Presentations: Lisbon (Alkantara Festival, 2006), Évora (Festival Internacional de Dança Contemporânea "Habitar A Cidade", 2006), Porto (LUPA Festival, 2009), Amares (Encontrarte Festival, 2009), Lisbon (Geraldine, 2011), Espoo (ArtHouse, 2017), Guimarães (Casa da Memória, “Intimacy & Performance International Colloquium”, 2018).

Compilação

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    Going To Your Place [A-Side] feat. Stop Deportations, Helsinki, 2017

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    On The Way [B-Side], Helsinki, 2017

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    On The Way [B-Side], Espoo, 2017

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    On The Way [B-Side], Espoo, 2017

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    On The Way [B-Side], Espoo, 2017

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    LADO C / C SIDE, Espoo, 2017

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    LADO C / C SIDE, Espoo, 2017

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    LADO C / C SIDE, Espoo, 2017

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    Going To Your Place [A-Side], Porto, 2007

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    Going To Your Place [A-Side], Hamburg, 2007

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    LADO C / C SIDE, Lisbon, 2006

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    LADO C / C SIDE, Lisbon, 2006

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    LADO C / C SIDE, Lisbon, 2006

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    Going To Your Place [A-Side], London, 2004

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    Going To Your Place [A-Side], Lisbon, 2003

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    Going To Your Place [A-Side], Lisbon, 2003

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    Going To Your Place [A-Side], Lisbon, 2003

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A dramaturgia do ser no cotidiano


Mônica Guerrero


“O que aconteceria se um estranho entrasse de repente em sua casa, apresentando-se como ator e propondo uma fórmula diferente de experiência dramática? Uma experiência que tem como objectivo principal a vontade de levar ainda mais longe a percepção do espectador relativamente aos objectos e factos do quotidiano. Invadir essa intimidade, apoderar-se de parte da privacidade de quem observa (e deixa ser observado) são os alicerces de Rogério Nuno Costa para o projeto Going To Your Place. A ida às casas dos espectadores não era propriamente o mais importante: a soma de possibilidades abertas pelos milhares de adereços diferentes, bem como as diversas possibilidades de desvio dramatúrgico em cada canto ou sala, ofereciam ao espectador um novo desafio e uma oportunidade aventura teatral muito diferente. Não se trata absolutamente de levar o teatro para casa, mas de dar uma espécie de “cara caseira” ao jogo teatral, brincando com um conjunto de circunstâncias para o performer estudar e integrar em tempo real. A simples presença de outra pessoa – o espectador –, transfigura esta simples ação de descobrir o seu lugar em outra coisa: ao explorar o espaço em que entra pela primeira vez, Rogério/performer dá-nos, minuto após minuto, vários sinais que ajudam acompanhamo-lo ao longo do percurso da performance em que participamos. Este é obviamente um exercício teatral, mas também uma experiência sociológica que põe em causa a forma como construímos as nossas configurações de vida privada. Este carácter de transformação efémera funciona como princípio de acção primordial para Going To Your Place: a saída do performer coincide com o apagamento de cada partícula da sua presença, bem como com aquele sentimento de abandono que se sente no final de cada espectáculo. No entanto, a reciprocidade da experiência assume aqui contornos inusitados: a imprevisibilidade existe em doses distintas tanto para o espectador como para o performer; a lógica espaço/tempo, mesmo quando apropriada criativamente pelo autor/intérprete, é em primeiro lugar uma decisão do espectador; a relativa fragilidade do papel do performer, afastado da segurança do cenário e colocado numa potencial posição de convidado (com todo o desconforto habitual que essa posição traz), e não na posição de líder da acção. Como é que Rogério Nuno Costa consegue, com esta performance, uma estratégia de subversão dos padrões convencionais de representação? Só para entrar na trivialidade das definições (não há necessidade de nos relacionarmos com detalhes do conteúdo da performance), eu diria que este sentido do teatro como um “ato de vontade” (Peter Brook diria…) é levado ao seu limite por Rogério Nuno Costa como pretexto para a consagração deste mínimo denominador comum: uma artificialidade construída e um espectador. Por outras palavras, um espaço comum, uma vontade de ver e uma vontade de ser visto.”


[in Sinais de Cena, revista de artes cênicas, nº. 1, Lisboa 2004]

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No Caminho / On The Way © Luísa Casella

Lisboa 2005

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